02 julho, 2008

sim, verdadeira nostalgia

Ontem descobri isto através deste post. E, no respectivo blog, podemos encontrar este texto:

"Qualquer pessoa pode lançar um disco!

Continuação do espírito "do it yourself"/faça você mesmo, que haviam iniciado em "Teenagers from outer space", a nova compilação da Milkshake-Bee Keeper concentra duas antologias num só volume: "This is not a Damage Fanclub tribute" e "Supermarket Music". As versões de temas dos extintos Damage Fqanclub acompanham novas propostas de jovens grupos. É um manual de como qualquer pessoa pode criar um projecto editorial.

Antes de saír do bar das instalações do PÚBLICO, a responsável pela pequena editora Bee Keeper, Elsa, esboçou uma expressão de inquietação quando reparou que o jornalista abandonava todo o material que ela lhe deixara em cima da mesa. Este pequeno facto dá a medida de como a dupla Futre e Elsa (Milkshake-Bee Keeper) trabalha. O carinho com que cada exemplar de um disco, cada panfleto ou imagem que acompanha o livrete revela um cuidado quase obsessivo. É como se, em vez de deveres escolares, as suas edições fossem a expressão amorosa dos trabalhos de casa, tendo em atenção cada indivíduo: "Não queremos o nosso disco nem em armazéns, nem em distribuidoras, nem em grandes lojas".

O projecto editorial que desenvolvem é um manual de "como fazer qualquer coisa". Para Elsa, "toda a gente é capaz de fazer isto, basta querer". "não queremos ser os únicos a fazer um CD, mas que muitos outros façam" Ao que Futre acrescenta: "Não é nada do outro mundo". São pequenos, mas querem manter o que fazem pequeno: "Quero que isto continue como está, quero controlar as coisas, saber que é que compra os meus discos, enviá-los por correio acompanhados de uma carta. [Mesmo] as pessoas das lojas são nossos amigos."

Depois de "Teenagers from outer space", a segunda compilação que agora lançam é aquilo a que chamam, como nos anúncios de "shampoo", um 2 em 1. Com efeito depois da ideia de lançarem uma antologia de homenagem aos extintos e quase anónimos Damage Fanclub - concretizada nas dez versões de "This is not a Damage Fanclub Tribute" - acrescentaram ainda, no mesmo volume, uma colectânea com mais dez originais de jovens projectos.

O disco de homenagem nasceu porque os Damage Fanclub terminaram ser deixar qualquer edição em registo. "Tinhamos o objectivo de fazer um disco deles porque tinham um grande "power" ao vivo. Era uma banda que não ensaiava, não trabalhava, viviam um bocado de situações de improviso, das condicionantes que apareciam na altura", explica Futre, que julga que o trio nunca "saiu do circuito underground [porque] nem sabia das potencialidades que tinha". Para Elsa, "sempre foram carismáticos". "Nunca percebi porquê, porque é que eles agarravam tanto as pessoas":

Futre recorda o panorama musical português de há quatro anos, quando os Damage Fanclub surgiram: "Era uma coisa medonha, não havia projectos interessantes, apenas algumas bandas com tiques dos anos 80. Os tipos não conheciam absolutamente nada, havia os Pixies, os Sonic Youth e os Metallica, que eram uma banda tabu para o pessoal que está dentro da cena alternativa. O que é que os Damage Fanclub fazem? Uma fusão dos Metallica com o som dos Sonic Youth, que criou uma certa originalidade. A mim fascinou-me um bocado porque, para mim, era tabu ouvir Metallica. Sem preconceitos, eles misturavam duas coisas que estavam nos antípodas uma da outra". Juhx, Toast, Pinhead Society, Bunnie, Forretas Ocultos, Gasoline, More Republica Masonica, Radioactive Man e X-Acto são os grupos que participam com versões de homenagem ao trio (o vocalista e guitarrista Miguel e o baterista Sérgio integram, entretanto, os Acid Flowers).

"O problema das editoras é levarem-se demasiado a séio". Elsa e Futre protagonizam - tanto no projecto de edição Bee Keeper como no de promoção de espectáculos e descoberta de novos valores Milkshake - o espírito amador e manual do trabalho, contra as ambições de tudo profissionalizar: "Brincar com as coisas é desmistificá-las". Por isso se excedem nas colagens de imagens de revistas, na utilização de frases feitas, inspirando-se no dadaísmo e nos seus descendentes políticos situacionistas: "É preciso ter ideias e acreditar nelas".

No livrete de folhas soltas que acompanha o CD pode encontrar-se um texto, "Guy Debord: against the institution-culture", em que Carlos Vidal, citando o autor de "A Sociedade do Espectáculo", justifica a vocação marginal e contra o sucesso deste projecto: "Tive o prazer de gozar o exílio, enquanto os outros sofreram as penas da submissão". Futre explica o destino de uma banda vulgar: "Eu próprio tive uma banda e sei o que se passa, ninguém aposta em ti. Só vês dinheiro a sair dos bolsos. Tens que ter uma sala de ensaios, o material é caro, não há sitios para tocar e, quando há, quase que tens de pagar. A maior parte da malta está a estudar e não tem dinheiro para sustentar esse vício. É um hobby caro e as pessoas fartam-se. Há projectos muito interessantes que, ao fim de seis meses, acabam. O nosso objectivo é que esses projectos não acabem. É por isso que pegamos em 21 bandas e as metemos num CD". Dentro do espírito "do-it-yourself"/faça você mesmo, que já norteara "Teenagers from outer space", as bandas que integram Supermarket Music são Dr. Frankenstein, Captain Clown, Acid Flowers, Marbles, Teenage Bubblegum, Jamie, Blister, Velveteen, Timmy's Milk e Alien Picnic.

"A Bee Keeper não é [bem] uma editora, é um veículo de expressão. As pessoas, passando por nós, podem ser ouvidas por mais pessoas. Aqui pode-se editar um disco, mas isto não é uma editora que faça contratos e pague ordenadaos. Aqui as pessoas podem encontrar apoio para tocar, para existir. Para que haja esse tal movimento que tentamos fomentar": O carisma de personagens como Elsa, Futre ou até mesmo Rafael Toral e João Paulo Feliciano cresceu pela forma como incentivaram os mais jovens a sustentarem os seus próprios projectos: "São incenctivos que geram outros incentivos, neste momento já vai havendo uma série de bandas que vão seguindo as pisadas de se auto-editarem". Projectos editoriais como a Low Fly ou a Big Big Tiger são a consequência de uma postura sem lucros, exibida até no preço do disco (2300 escudos): "O dinheiro que fazemos é para fazer mais discos, não metemos nada ao bolso. Nunca vimos dinheiro à frente, é mesmo reciclar para fazer discos, e mesmo assim temos que andar atrás dos patrocinadores".

(18/12/96) © PUBLICO


This is not a Sérgio tribute.
Beijo enorme, Sérgio.


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